O programa “Brasil que Enxerga”, desenvolvido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia e que tem como principal objetivo levar orientação e saúde ocular a todo o Brasil, realizou sua primeira live, apresentação ao vivo transmitida através das mídias sociais, que abordou o tema “Aulas on-line e a saúde dos olhos”.
O assunto foi selecionado devido à mudança causada pelo isolamento social em nosso cotidiano e nas tarefas diárias dos brasileiros. Com as aulas suspensas, toda a atenção se voltou para a possibilidade de se continuar os estudos em cursos, escolas e faculdades, de forma virtual.
As crianças da atual geração nasceram envoltas em um mundo muito mais tecnológico, o que reflete não somente na saúde ocular, como também em seu comportamento. Como especialista e mãe de duas crianças, Dra. Luciana Moraes fala com propriedade sobre as dificuldades que surgem com esse contato próximo das crianças com a tecnologia, desde tão cedo. Quando falamos em telas, nos referimos tanto a telas menores, como celulares e tablets, que às vezes podem parecer menos danosas aos olhos; quanto às maiores, como televisões e telas de computadores e notebooks. De acordo com a médica, o problema mais comentado, e o principal medo das mães quando falamos da exposição a telas, é a miopia.
A miopia está relacionada ao uso excessivo de telas, como demonstrado em diversos artigos científicos sobre o tema, devido ao fato da criança, que faz uso excessivo de telas como celulares e computadores, não se expor ao sol com frequência. “A exposição solar incentiva a produção de dopamina, substância que controla o crescimento ocular, evitando que se torne um olho alongado e desenvolva a miopia”, afirmou a especialista.
Segundo a Dra. Luciana Moraes, algo que ainda não foi totalmente comprovado é a exposição a atividades que usem a visão para perto, não utilizando a visão à distância. O que alguns estudos indicam é que, nesse caso, o olho se alonga, pois a imagem é formada através de uma pupila mais dilatada. Quando isso ocorre com muita frequência, o olho tenta se adaptar e cresce, desenvolvendo também a miopia. A pupila está mais dilatada em ambientes internos, com pouca iluminação, pois se abre para captar mais luz, por isso a relação.
“Devemos olhar para o tempo de exposição às telas, mas estamos em um momento diferente. As crianças já utilizavam o celular para brincar e falar com amigos, e agora, com aulas on-line, esse tempo de tela aumentou ainda mais”, informou a Dra. Luciana Moraes.
Priscilla Torres, Coordenadora do Blogueiros da Saúde, também afirmou: “As crianças e adolescentes querem ficar no computador, tablet e celular o dia inteiro, muitas vezes com os três dispositivos ao mesmo tempo. E hoje em dia, não temos a liberdade de oferecer atividades externas a eles”. Dra. Luciana Moraes sugeriu: “Estimulem as crianças a brincar perto de janelas, ou em varandas, onde haja iluminação solar”. Outro tema relacionado ao uso de telas é a fadiga ocular, uma vez que temos músculos que, ao ficarmos olhando para algo de perto, estão contraídos. Podemos desenvolver câimbras nos olhos, espasmos de acomodação de seus músculos. Assim, quando olhamos para algo longe, não enxergamos mais tão bem, por um período. Outra coisa que acontece é que quando olhamos para algo de perto, nossos olhos convergem. Quando mantemos eles assim por muito tempo, ao olhar para longe novamente, podemos ficar estrábicos (vesgos) por um pequeno tempo. Existe um aumento na incidência de crianças estrábicas devido a essa mudança comportamental.
Durante a live, foram apresentadas três dicas para aliviar essas tendências com o uso das telas:
1ª dica: mantenha a tela a, pelo menos, 30 cm de distância dos olhos;
2ª dica: a cada 20 minutos de exposição às telas, pare 20 segundos e olhe para algo à distância de aproximadamente seis metros. Com isso, o músculo que está contraído pode descansar;
3ª dica: exponha-se ao sol sempre que possível.
Também foi abordado o mito de não ficar no escuro com celular ou tablet, assunto trazido pelo Dr. Cristiano Caixeta. De acordo com a Dra. Luciana Moraes, para os adolescentes e crianças, ficar no escuro jogando ou nas mídias sociais gera um problema mais comportamental do que de saúde ocular. Ao ser questionada sobre a luz azul, segundo a especialista, não existe comprovação de que luz azul melhora ou piora a miopia. No entanto, o filtro em óculos, que se torna cada vez mais popular, serve para o conforto visual em alguns pacientes.
Dr. José Beniz reforçou também a importância de pais consultarem um médico oftalmologista sempre que notarem alguns comportamentos em crianças, como assistir televisão ou usar o celular muito próximo aos olhos. “Nem sempre significa um problema, mas sempre é importante que a criança passe por uma avaliação com um médico oftalmologista”, sugeriu.
Outra dica ressaltada foi sobre como cuidar da saúde dos olhos durante as aulas on-line. Dra. Luciana Moraes enfatizou que é importante não ficar em um ambiente seco. “Pouca umidade, como acontece por exemplo, quando estamos em um ambiente com um ar-condicionado ligado, somado ao fato de piscarmos menos os olhos, pois estamos assistindo à aula, faz os olhos arderem”. Para a especialista, é fundamental ter sempre um umidificador, ou até mesmo uma toalha molhada próxima durante as aulas virtuais. O uso de colírios lubrificantes, ou lágrimas artificiais, também é recomendado, desde que esses colírios não contenham substâncias vasoconstritoras.
A live do “Brasil que Enxerga” foi um grande sucesso, com cerca de 6.700 pessoas alcançadas, com mais de 1.500 visualizações e 185 reações e compartilhamentos. 37 pessoas estiveram assistindo simultaneamente à transmissão e muitas outras assistiram após esse dia, pois as lives se encontram disponíveis nas mídias sociais do CBO.
Fonte: Revista Veja Bem – Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO)